Linhas do "Americano" na Póvoa do Varzim, nos princípios do séc. XX.
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O CARRO AMERICANO
O último quartel do século XlX, com o advento dos motores de explosão, revolucionou a indústria de transportes.
Entretanto, o meio usado para o efeito era o de carros de tracção animal. As pessoas de maiores posses tinham as suas “charretes”, puxadas por cavalos; pelas estradas, irregulares e poeirentas, as diligências faziam o serviço de passageiros entre as localidades e, nas cidades e vilas, os alquiladores tinham os seus “char-à-bancs” e os seus fiacres ao dispor dos eventuais utilizadores – como hoje acontece com os táxis. A Póvoa de Varzim, por essa altura com cerca de 2400 fogos, contava perto de 11.000 habitantes e era já muito procurada, como estância balnear, por gentes do todo o norte do país. No início da rua da Junqueira, do lado onde se situa a Capela de S.Tiago, havia, na época, umas cocheiras onde se recolhiam os carros em que se faziam transportar, na época de banhos, as pessoas oriundas das terras do Minho, de Trás-os-Montes e do Alto Douro que aqui, por conselho médico, procuravam remédio para os seus males.
A Póvoa atravessava, então, uma fase de notório progresso: a modernização da iluminação pública, cujos candeeiros a petróleo passaram a funcionar a gás e depois a electricidade, e a formação dos primeiros Bancos, vieram dar um impulso decisivo à vida social e económica poveira.
Mas a vila não tinha ainda a sua comarca, pelo que os julgamentos tinham que ser feitos na vizinha Vila do Conde. Por esse motivo o movimento entre as duas vilas era contínuo e o défice de transportes causava grandes transtornos.
Foi então que um comerciante do Porto, João Ferreira Dias Guimarães, teve a ideia de criar um serviço público de transporte regular em moldes modernos, inspirando-se no que era já corrente na América do Norte.
Pediu, e obteve do Governo, autorização para assentar no leito da estrada – então estrada real nº. 30 - carris de ferro para sobre eles transitarem os “americanos”, tipo de carruagens puxadas por mulas.
A linha foi inaugurada em 15 de Outubro de 1874, dispondo de 6 carruagens e 30 muares. O seu percurso ia da Praça do Almada, na Póvoa, até à estação do caminho-de-ferro em Vila do Conde.
A princípio a exploração da linha foi compensadora: eram muitas as pessoas que tinham assuntos forenses a tratar, e que passaram a contar com a comodidade dum serviço regular a preço convidativo: 40 réis para a ida e outro tanto para o regresso (nesse tempo uma libra valia 4$500 reis). Eram muitos, também, os frequentadores da feira de Vila de Conde, que passaram a utilizar os "americanos", que o povo, numa espirituosa alusão às mulas que o puxavam, designava por "muléctricos".
Porém, com a criação da comarca da Póvoa no ano seguinte, a afluência dos viajantes diminuiu; por outro lado, os alquiladores, a quem o novo serviço viera prejudicar, entraram em regime de concorrência nos dias de feira cobrando um vintém por pessoa (um vintém equivalia a 20 réis, metade, portanto, do que se pagava nos “americanos”).
O empreendimento entrou em ruptura financeira e, com os prejuízos que teve, a Empresa teve que leiloar os seus haveres, o que fez com pesado prejuízo.
A nova Sociedade que lhe sucedeu teve a mesma sorte.
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