segunda-feira, 7 de maio de 2012


O Pescador Poveiro






» SÓ TENDO A MORTE QUASE CERTA É QUE O POVEIRO NÃO VAI AO MAR - AQUI, O HOMEM É ACIMA DE TUDO PESCADOR

Depende do mar e vive do mar: - diz-nos Raúl Brandão, cria-se no barco e entranha-se de salitre. Desde que se mete a terra o poveiro modifica-se; perde em agilidade e equilíbrio, hesita, balança-se, não sabe onde pôr os pés.

Conheço esses homenzarrões brancos e espessos, de cara rapada ou suiças, barrete na cabeça e calça branca de lã, desde que me conheço. Iam dormir à Foz dentro de lanchas e todas as tardes o moço passava à minha porta com o barril da água à cabeça.

Dormiam no rio cobertos com a vela, e primeiro que pregassem olho era um falatório que se ouvia em toda a vila.

O pescador poveiro ignora tudo fora da sua profissão, mas essa conhece-a como nenhum outro pescador. Sabe onde está o banco da sardinha pelo vôo dos mascatos, que lá do alto cai a prumo sobre o cardume; quando ela anda terrenha, isto é, perto da costa, e torneira ou à flor das águas.

Sabe tudo do mar da Cartola que dá a pescada, o da Ferralhuda, que dá à raia, o da gata, que dá raia e cação, o Bianco, o Lameirão, etc.

Acima de tudo, está Deus, e para eles o Senhor do Mar é que dá a fome e a fartura.